Goiás é o estado que registrou maior aumento na temperatura nos últimos 30 anos
Goiás é o estado que registrou maior aumento na temperatura nos últimos 30 anos
Pesquisa do Inmet apontou que a temperatura média do estado subiu 1,5ºC no período. Onda de calor e queimadas são consequências do aquecimento
Goiás está entre os três estados brasileiros que mais registrou aumento de temperatura nos últimos 30 anos, com acréscimo de 1,5ºC. A lista é completada por Pará e Mato Grosso, que também registraram uma elevação de temperatura entre 1,2ºC e 1,5ºC, conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
As regiões que experimentaram maior elevação foram o Norte de Goiás, Nordeste de Mato Grosso e Leste do Pará. O aumento foi verificado pelo Inmet após uma comparação entre os valores médios registrados nas estações automáticas ou convencionais meteorológicas espalhadas pelo país. O período estudado foi entre 1961-1990 e 1991-2020.
O meteorologista do Centro de Excelência em Estudos, Monitoramento e Previsões Ambientais do Cerrado da Universidade Federal de Goiás (Cempa-Cerrado/UFG), Angel Domínguez Chovert, explica que o desmatamento e a degradação do Cerrado são alguns dos principais fatores da elevação. “O próprio aquecimento global tem um impacto grande nas temperaturas da região tropical. Isso tem mudado também o regime de precipitação na região que está associado com a temperatura”, afirmou o especialista.
O aquecimento tem potencial para provocar mudanças climáticas que são de natureza extrema, de acordo com o especialista. A onda de calor que “atacou” Goiás, por exemplo, é uma das consequências do aumento da temperatura, assim como outros fenômenos naturais que podem acontecer com maior intensidade, a exemplo do El Ninõ.
Os efeitos do aquecimento também podem ser sentidos em todo país. Atualmente, o Brasil sofre com secas extremas no Norte e Nordeste, precipitações intensas no Sul e calor escaldante no Centro-Oeste e Sudeste. Ou seja, situações distintas, mas que ocorreram ao mesmo tempo.
O meteorologista alerta que as altas temperaturas, quando combinadas com a baixa umidade, deixam o ambiente totalmente favorável para a ocorrência de queimadas que provocam grandes danos nas populações de animais e plantas das regiões afetadas. O Parque Estadual de Terra Ronca (Peter), localizado nos municípios de São Domingos e Guarani de Goiás, por exemplo, teve 5.556 dos 57 mil hectares do parque consumidos pelo fogo após um incêndio que se iniciou no último dia 30 e se encerrou apenas na terça-feira, 3.
“O aumento da temperatura média em uma região também provoca danos específicos nos diferentes setores produtivos e na saúde humana. Na agricultura, os períodos com registros de temperaturas acima da média podem afetar o normal desenvolvimento fisiológico dos cultivos”, afirmou.
Combate ao aquecimento
Mesmo com a temperatura em tendência de alta, Angel diz que ainda é possível reverter o aquecimento registrado. O principal modo, conforme o especialista, é diminuir as emissões de gases de efeito estufa, que são os principais responsáveis pelo aumento da temperatura na atmosfera.
Os gases absorvem parte da radiação que a Terra emite para o espaço depois de absorver radiação solar. Porém, eles acabam voltando para a superfície terrestre, criando o efeito de estufa.
“Há algumas medidas específicas [para combater o aquecimento] como substituição das frotas de veículos com maior emissão de poluentes, a transição energética para fontes de energia limpa e renovável, atualização das tecnologias na indústria, reflorestamento e plantio direto na agricultura”, contou.
“Mesmo que as emissões de gases de efeito estufa sejam cortadas totalmente neste momento, ainda teremos aquecimento da atmosfera pelos gases que já foram emitidos antes, uma vez que cada um desses gases tem um ciclo de vida na atmosfera que favorece com que os efeitos sejam de longa duração”, concluiu em seguida.
Vazão Meia Ponte
O calor também tem impactos significativos no abastecimento de água. Segundo o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim, a vazão do Rio Meia Ponte, um dos principais mananciais de abastecimento de Goiânia e Região Metropolitana, entrou em nível de alerta após chegar a 6.702,8 na última semana L/s.
A vazão, inclusive, é 87,7% menor do que a máxima registrada pelo órgão este ano, que chegou a 54.918,7 L/s. A vazão é medida por estágios, sendo que o primeiro estágio que demanda preocupação considera vazão igual ou menor que 12 mil L/s. Quando os níveis da vazão vão reduzindo, o abastecimento pode entrar no segundo nível de monitoramento, que é o nível de alerta. Neste caso, o escoamento é igual ou menor que 9 mil L/s.
O nível crítico 1 considera escoamento menor ou igual a 5,5 mil L/s; abaixo de 4 mil L/s é caracterizado o nível crítico 2; abaixo de 3 mil L/s, nível crítico 3 e escoamento menor que 2 mil L/s é nível crítico 4.
“A gente chegou ao nível crítico 1, mas saímos dele e agora estamos alinhados com a expectativa da chuva. Esperamos que a vazão se mantenha em nível de alerta. Para isso, o uso racional da água é muito importante neste período para que o abastecimento não venha ser prejudicado”, disse André.
Nova onda de calor
Uma nova onda de calor deve fazer com as temperaturas fiquem acima da média no mês de outubro, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Conhecido por ser tipicamente quente, com registros de temperaturas extremas, outubro ainda contará com a presença do El Niño.
É esperado que as temperaturas fiquem de 2°C a 3°C acima da média dos registros dos anos anteriores na maior parte do país, como nos estados das regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Na região Sul e no norte do Amazonas o impacto deve ser menor, de 1ºC.
Áreas de Mato Grosso, Pará, Tocantins, Maranhão, Piauí e oeste da Bahia devem ser as mais afetadas, com temperaturas médias superando os 29ºC. O calorão, porém, também deve atingir em cheio Goiás e o Distrito Federal.
“Ainda é muito cedo para confirmar, mas alguns modelos já mostram que na metade do mês pode ocorrer um período de seca e altas temperaturas [em Goiás]. Ainda não há como saber o grau de intensidade”, afirmou o meteorologista, Angel.
Cuidados
A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES) soltou um alerta para as consequências do calor excessivo e da baixa umidade relativa do ar na saúde humana. Somente no mês de setembro, 23 pessoas procuraram atendimento com queixas de exaustão, desidratação, insolação e desmaios relacionados às altas temperaturas. Com os termômetros marcando próximo dos 40 graus, especialistas recomendam cuidados redobrados com a ingestão de líquidos e a exposição ao sol.
A superintendente de Políticas e Atenção Integral à Saúde, Paula dos Santos Pereira, destaca que entre os sintomas mais comuns da insolação estão alterações de consciência (confusão mental e convulsões), pele quente e seca, pressão arterial baixa, hiperventilação (respiração rápida), inchaço, náusea e desmaios.
“Uma das primeiras medidas quando uma pessoa está apresentando sinais de estresse por calor é levá-la para um local arejado e fresco, hidratá-la e deixá-la com roupas leves. Caso a pessoa tenha sinais de insolação ou não apresente melhora, isso é uma emergência e é necessário buscar atendimento médico”, explicou.
O médico infectologista, João Alves de Araújo Filho, enfatiza que ainda pode fortalecer as doenças respiratórias, fazendo com que o paciente morra sem o tratamento adequado.
“O calor excessivo pode ter sérias consequências para nossa saúde, desde a desidratação leve até a morte. Normalmente, o calor vem acompanhado por diminuição da umidade do ar. Isso pode piorar doenças respiratórias, como a asma e a doença pulmonar obstrutiva crônica, além de favorecer também quadros de infecção respiratória’’, destaca.
Entre os cuidados divulgados pela pasta estão:
Hidratação: aumente a ingestão de água ou sucos de frutas naturais, sem adição de açúcar, mesmo sem sentir sede. Evite bebidas alcoólicas e com alto teor de açúcar. Dê preferência por refeições leves, com menos condimentos e mais frequentes. Esteja atento às necessidades de hidratação de recém-nascidos, crianças, idosos e pessoas com comorbidades, mesmo que não manifestem sede;
Cuidados coletivos e em casa: abra as janelas durante a noite para ventilação. Utilize roupas de cama leves e vista-se com roupas frescas e leves ao dormir, especialmente bebês e pessoas acamadas. Além disso, é importante manter ambientes úmidos com umidificadores de ar, toalhas molhadas ou baldes de água;
Medicamentos: mantenha medicamentos abaixo de 25º C na geladeira (verifique as instruções de armazenamento na embalagem). Procure orientação médica se você tiver uma doença crônica, condição médica ou estiver tomando vários medicamentos. Durante os períodos mais quentes, tome banhos com água morna e evite mudanças bruscas de temperatura;
Proteja-se do sol e do calor: evite a exposição direta ao sol, especialmente entre 10h e 16h. Use protetor solar se estiver exposto ao sol, para proteger a pele contra raios ultravioletas, e o use de chapéus e óculos escuros. Lembre-se: Nunca deixe crianças ou animais de estimação em veículos estacionados.
Foto: Carolina Pimentel / EBC