A luta de Verônica Mesquita pela vida e o legado na área da Educação
Verônica Mesquita, professora, morreu no dia 10 de fevereiro de 2023, aos 65 anos, vítima de uma complicação incidente sobre uma cirurgia bariátrica que precisou fazer. Não houve tempo para o adeus à Verônica. Quem nos ajuda a escrever essa história é o próprio esposo, Pedro da Emater, que vive hoje, como ele mesmo diz – “um dia após o outro”.
“Não deveria ter sido assim. Não deveríamos ter perdido ela assim, tão cedo. Ela tinha uma vida inteira pela frente”, contou.
A história de Verônica
Verônica começou a trabalhar desde muito cedo, aos 13 anos, na Telegoiás; se formou em Pedagogia, passou pelo antigo magistério, e trabalhou por quase 20 anos no Colégio da Sama (antigo Colégio Ginette Milewski) como professora de educação infantil. Verônica resolveu se especializar em psicopedagogia para entender mais esse universo – as ações e reações das crianças que ela se dedicava a ensinar.
Hoje, explica Pedro, há muito engenheiros, médicos, professores, administradores, que aprenderam a ler na infância, com ela. Ou mais tarde, deram continuidade ao que aprenderam no Ensino Fundamental e Médio. “O Dr. Eduardo, por exemplo, que quando se formou, colocou na capa do convite, ele abraçado com a “Tia Verônica” dele. Isso deixou ela muito emocionada”, contou. Foram anos de dedicação à educação infantil dos filhos dos funcionários da Sama, e da Educação Municipal, que hoje estão em algum lugar do mundo, repercutindo o que ela deixou como legado. “Ela era muito inteligente. Muito centrada. Ela era a mulher da minha vida, era a menina dos meus olhos”, disse Pedro, emocionado, ao Portal NG.

Verônica tem uma história que se alia à própria história da Educação de Minaçu. Ela começou a atuar na gestão do primeiro prefeito da cidade, Zé Albino, e depois continuou contribuindo para a Educação, nas gestões dos prefeitos, Dr. Ednaldo, Cícero Romão e Joaquim Pires, seja como professora, coordenadora pedagógica ou atuando no administrativo da Secretaria. Assim, Verônica foi construindo o seu legado e ajudando a escrever outras histórias, de centenas de alunos quem moravam, ou ainda moram em Minaçu, num enredo de dedicação e zelo pela Educação.
Ainda nos anos 2000, conta Pedro, ela aceitou um desafio maior: coordenar a Fundação Bradesco de Formoso do Araguaia, na Fazenda de Canuanã, entidade que cuida de crianças em vulnerabilidade. A saudade de Minaçu chegou mais cedo do que o previsto, e ela quis voltar com a família para a cidade. Foi quando se dedicou a coordenar o núcleo de Educação Infantil da Secretaria de Educação, no governo Joaquim Pires.
A luta de Verônica pela vida em 2023
Após realizar a cirurgia bariátrica em Goiânia, Verônica entrou em um estado grave de depressão. A cirurgia foi muito bem sucedida, mas o processo de cura psicológica, não. “Ela se alimentou bem no primeiro mês. No segundo, a comida não fazia mais sentido pra ela”, disse Pedro, afirmando, que Verônica começou a se render a um quadro de subnutrição alimentar que a deixava cada dia mais fraca. Verônica fez todo o processo de acompanhamento psicológico que são comuns às cirurgias desta natureza. Mas, pouco tempo depois: “Ela tentava encontrar sentido, na vida, nas coisas, nos alimentos, e não achava”, disse.
A perda da filha desestruturou Verônica
Há 7 anos, Verônica sofreu uma perda que a deixou sem rumo de tudo. Foi quando Verusca Mesquita, sua filha, perdeu a luta contra o câncer. Ela era engenheira, trabalhava na Sama. Era um dos maiores orgulhos da mãe vê-la galgar postos que sonhava na carreira. Verusca deixou uma filha, que hoje está com 9 anos. “Tinha dia que ela só chorava. Tinha dia que eu chegava do trabalho e ela tava num canto, escondida, chorando. Eu perguntava. O que você tem? É saudade da minha filha, só isso”, respondia. “Mas a gente já chorou demais! A gente não se comprometeu a não chorar mais?” questionou ele a ela. Mas havia também na relação do casal um pacto de perdão quando isso acontecesse. Mas eram recaídas que o tempo não curava. “E ela me dava muita força também, quando era comigo”, disse.
Os dias de Pedro
Pedro da Emater, em entrevista, fala como todos os dias tem sido iguais para ele. “Eu tenho mais 2 filhos, eles me apoiam demais. Mas a lembrança fica na cabeça” diz Pedro, ao falar da dor que sente diariamente. “É tão forte, é como se eu vivesse aquele dia, todos os dias”, conta. Como numa viuvez que não se apaga, Pedro resume: “É muito duro. Eu to aqui, falando com você, sozinho, olhando para o tempo. É muito difícil”.
Verônica e Verusca, mãe e filha, pareciam uma só, diz amiga
Elki Sandra Gonçalves Evangelista, fez parte dessa história. “A minha relação com a Verônica veio da minha amizade com a Verusca, que faleceu em 2017. Trabalhávamos juntas na empresa SAMA. Minha mesa ficava ao lado da dela. Do nosso convívio fui cultivando um carinho imenso por toda sua família. Verusca atendia as ligações da mãe chamando-a de “minha rosa” e eu passei a chama-la do mesmo jeito”, disse ela.

“Depois que Verusca faleceu, eu e Verônica conversávamos por horas e horas e partilhávamos lembranças maravilhosas, trocávamos fotos da Verusca, e ela sempre me dava notícias da Rafa, sua netinha (filha da Vê)”, contou.
“Era sempre um prazer conversar com a Verônica. Seu português muito bem falado, a doçura na voz, sua sabedoria e conselhos, ela sempre me elogiando e dizendo o quão especial eu era. Sempre disse a ela o quanto eu gostava de ouvi-la, pois a voz parecida com a da Verusca me permitia matar um pouco a saudade. Verônica foi uma mulher forte, e acima de tudo uma mulher de muita fé. Mesmo com o coração dilacerado pela perda da filha, nunca ouvi de sua boca palavras ou pensamentos negativos, ela só transmitia amor e positividade. Verônica e Verusca fazem muita falta, mas tenho o coração em paz por saber que estão juntinhas, mãe e filha!”, disse.

CMEI e homenagem a professora
Recentemente a Prefeitura de Minaçu enviou um Projeto a Câmara para levar a um Centro de Educação Infantil o nome de CMEI Verônica Mesquita. Quem conhece a história de Verônica sabe que a homenagem coroa a história de uma pioneira, que se entregava completamente ao ofício de educar. Foi. E sempre será.
Verônica era uma boa contadora de histórias. Ela foi com Deus, e a gente ficou do lado de cá, revivendo as lições de humildade, discernimento, e dedicação, que sua passagem entres nós deixou. Sim, é uma justíssima homenagem!
Veja a matéria completa neste Portal e na edição impressa do Jornal que estará disponível na próxima semana.
Danillo Neres
Jornalista do Jornal O Norte de Goiás