Seca no plantio deve causar perda de até 23% na produção de soja, em Goiás

Seca no plantio deve causar perda de até 23% na produção de soja, em Goiás

 

Estimativa feita pela Faeg após queixa de produtores é que a produtividade média caia a 50 ou 55 sacas por hectare em virtude do clima

 

A produção goiana deve apresentar perdas que podem variar entre 15% e 23%. Essa é a previsão da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), apresentada no Balanço da Expedição Safra Goiás, nesta segunda-feira (22). O baixo volume de chuvas no início do plantio, entre setembro e outubro do ano passado, foi apontado como principal motivador.

 

A expedição percorreu 6 mil quilômetros, em 80 municípios goianos. A conclusão foi de que há perdas consolidadas na produção em Goiás. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), entre 2022 e 2023, a produtividade média foi de 65 sacas por hectare. A estimativa da Faeg é que entre 2023 e 2024, esse valor caia para 50 ou 55 sacas por hectare.

Durante a apresentação, além da escassez da chuva, com precipitações esparsas em volumes variados, foram citados os estresses hídricos e térmicos como fatores que colaboraram para essa queda. As principais perdas foram em lavouras que fizeram o plantio em setembro ou outubro, por conta também das altas temperaturas do período. Quem plantou em dezembro e janeiro também pode ser prejudicado devido o plantio fora da janela ideal.

 

Quem fez em novembro ainda conseguiu uma condição melhor de produtividade. Foi o caso de Jeone Pereira, proprietário de uma fazenda em Bela Vista. “Tivemos uma seca muito forte e a germinação das sementes foi baixa, mas hoje até que a soja recuperou bem porque a chuva melhorou”, disse, descartando prejuízo.

 

O fato de ainda haver lavouras em estado vegetativo ou reprodutivo inicial faz com que a estimativa não seja tão precisa, já que o tempo daqui para frente ainda deve influenciar. As regiões mais prejudicadas foram o Sudoeste, o Vale do Araguaia e Nordeste Goiano. A expedição feita pela entidade também encontrou problemas de falta de cobertura na proteção do solo em algumas áreas, o que fez com que as plantas sofressem mais com as elevadas temperaturas, causando redução no stand e problemas nutricionais pela baixa inoculação, agravando o estresse hídrico e térmico e consequentemente, as produtividades.

 

Também ficou constatada pela Faeg a dificuldade que os produtores tiveram nas pulverizações, em função do clima desfavorável. Foi observado ainda uma grande pressão de pragas nas áreas produtivas, especialmente as lagartas.

 

De acordo com o levantamento, o que deve evitar resultados piores é o bom desempenho das lavouras de ciclo médio e longo, semeadas em novembro, que apresentam um bom potencial produtivo em algumas áreas, dependendo de como vão ser as chuvas. As colheitas pontuais já realizadas mostraram baixo desempenho, até agora, com produtividades abaixo de 30 sacas por hectare. Cerca de 3% das lavouras goianas já estão colhidas com esse baixo rendimento.

“Há perdas consolidadas. É impossível falar que isso não vai ocorrer. Tivemos um clima bastante desafiador, principalmente nos meses de setembro e outubro, que deve causar grande redução na produtividade, principalmente nas lavouras plantadas nessa época”, diz Leonardo Machado, assessor técnico da Faeg. Ele acredita que essas fazendas ficaram cerca de 20 a 25 dias sem chuvas. Machado conta que a produtividade do milho safrinha também será reduzida nesse mesmo contexto.

 

“Perguntamos a todos os produtores que visitamos a expectativa de plantio de milho safrinha e todos vão reduzir. Isso pode trazer impacto maior para a criação de aves e suínos, que depende muito desse milho”, avalia.

Tempo
Gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim afirma que há uma preocupação com a chegada do La Niña, previsto para o segundo semestre deste ano. Segundo ele, o fenômeno é bom para Goiás porque traz chuvas mais abundantes.

“O que nos preocupa é o período no meio. Vamos terminar estas chuvas em meados de abril para maio, e esperar o retorno em meados de outubro, já entrando em novembro. Nós teremos um ciclo muito extenso de falta de chuvas, mesmo que tenha uma ou outra”, explica.
Amorim lembra que o El Niño de 2023 trouxe chuvas irregulares. “Agora nós estamos devendo e vamos passar por um período de estiagem um pouco mais complexo. É importante o produtor rural ficar atento ao seu planejamento. Se for fazer uma reforma do pasto, por exemplo, tem que ser agora”, aconselha.

 

O presidente da Faeg, José Mário Schreiner, avalia que o resultado trouxe “surpresas desagradáveis”. “É uma perda considerável. Significa que mais de 3 milhões de toneladas de soja deixarão de ser colhidas em Goiás”, afirma.

 

Schreiner ainda calcula os prejuízos: “O primeiro prejuízo é do produtor rural, mas também a agroindústria vai deixar de processar esse produto, que deixará de aparecer nas prateleiras de supermercado, apesar de não haver risco de desabastecimento”. O presidente calcula ainda redução das importações e da empregabilidade.