Defesa da democracia é mais importante do que qualquer cargo, diz Biden

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WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Em pronunciamento histórico à nação, o presidente Joe Biden, 81, justificou sua desistência de concorrer à reeleição afirmando que a defesa da democracia é mais importante do que qualquer cargo.

 

“Eu reverencio este cargo, mas amo mais o meu país. Foi a honra da minha vida servir como seu presidente”, disse. “Mas, na defesa da democracia, o que está em jogo é mais importante do que qualquer título.”

O discurso desta quarta-feira (24) foi feito do Salão Oval, reservado para ocasiões mais relevantes, e raramente utilizado pelo democrata.

Biden também agradeceu à vice-presidente, Kamala Harris, a quem endossou para substituí-lo na chapa democrata. “Ela é experiente. Ela é forte. Ela é capaz. Ela tem sido uma parceira incrível para mim e uma líder para o nosso país. Agora a escolha é sua, povo americano: vocês fazem essa escolha”, disse ele em tom de campanha.

Já Donald Trump não foi citado nenhuma vez. Embora não tenha mencionado o adversário, a linha do discurso foi muito próxima da estratégia democrata de caracterizar o republicano como uma ameaça à democracia.

O presidente também defendeu seu mandato, elencando diversas iniciativas dos últimos três anos e meio. “Acredito que meu histórico como presidente, minha liderança no mundo, minha visão para o futuro da América, tudo isso merecia um segundo mandato. Mas nada, nada pode atrapalhar salvar a nossa democracia. Isso inclui ambições pessoais”, disse.

Biden afirmou ainda ser a hora de passar o bastão para uma nova geração, reconhecendo a necessidade de “vozes mais jovens”. “Essa é a melhor forma de unir a nossa nação”, disse.

“A história está nas suas mãos, o poder está nas suas mãos, a ideia da América está nas suas mãos”, afirmou. “Vamos agir juntos e preservar nossa democracia.”

Biden disse que vai continuar trabalhando os próximos seis meses restante de seu mandato pelo povo americano. Ele disse que, sendo um “menino com gagueira”, jamais teria imaginado chegar à Presidência, e que isso ilustra os EUA em que ele acredita.

Em sua rede social, Truth, Trump afirmou que “mal deu para entender o discurso” e que a fala foi “muito ruim”. Ele também afirmou que Biden e Kamala são uma vergonha para os EUA. Sua campanha disparou ainda uma mensagem pedindo doação de apoiadores.

Segundo a imprensa americana, após o discurso Biden foi saudado pelos funcionários da Casa Branca que o aguardavam no Rose Garden, junto com a primeira-dama, Jill, e que tomou sorvete -o presidente é conhecido pelo seu apreço pela sobremesa.

O democrata anunciou sua saída da corrida pela Casa Branca no último domingo (21) por meio de uma carta compartilhada em suas redes sociais. A decisão ocorre após ele sofrer forte pressão do próprio partido em razão da performance desastrosa no debate contra Donald Trump no mês passado.

Logo após retirar-se do pleito, ele endossou sua vice, Kamala Harris, como sua substituta na chapa.

O último presidente a desistir de concorrer à reeleição foi Lyndon B. Johnson. Sua decisão foi anunciada por meio de um pronunciamento à nação feito em março de 1968. O presidente era alvo de enorme insatisfação entre democratas em razão da guerra do Vietnã. A desistência, porém, aconteceu antes de ele tornar-se o candidato presumido do partido.

Biden estava isolado em sua residência em Rehoboth Beach (Delaware) após ser diagnosticado com Covid e, por isso, teria optado pelo anúncio em forma de texto nas redes sociais. Na carta, ele prometia que faria um discurso explicando suas razões ao longo da semana. Ele voltou à Casa Branca na tarde de terça.

Biden fez uma breve participação por telefone nesta segunda durante uma reunião do que era até domingo a sede da sua campanha em Wilmington (Delaware). O presidente agradeceu a equipe e disse que continuará “totalmente engajado” na campanha. “Eu estou de olho em você, menina. Eu amo você”, disse ele a Kamala.

Na primeira pesquisa feita após a desistência de Biden, a vice apareceu numericamente à frente de Donald Trump e supera o republicano fora da margem de erro no cenário em que o candidato independente Robert F. Kennedy Jr. é incluído entre as opções.

O levantamento Reuters/Ipsos foi realizado na segunda (22) e na terça-feira (23). Foram ouvidas 1.241 pessoas em todo o país.

Uma outra pesquisa, divulgada nesta quarta (24) pela CNN, aponta o republicano numericamente à frente da democrata, mas com uma vantagem menor da que era observada em relação a Biden. Trump seria a escolha de 49% dos eleitores americanos, já Kamala teria 46% das intenções de voto.

A diferença entre os dois não é, porém, considerada estatisticamente relevante porque está dentro da margem de erro de três pontos percentuais. Com Biden, a diferença era de seis pontos. A pesquisa foi realizada virtualmente na terça (22) e quarta-feira (23).

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