Leréia foi um gigante diante de uma horda de políticos obcecados pelo seu próprio talento
Leréia foi reeleito prefeito de Minaçu, com 73.77% dos votos, numa guerra de armas invisíveis e de gente perigosa, disposta ao tudo ou nada. Custou a ele enfrentar toda sorte de ataque por parte de um batalhão de gente conhecida, auspiciosa, políticos experientes, lideranças antigas, ex-prefeitos que há anos mal se cumprimentavam, mas que nutriam pelo gestor algo em comum: são obcecados pelo seu próprio talento.
Chegaram juntos a uma conclusão: nenhum deles seria capaz de derrotar o atual gestor, até porque convencidos dos avanços que a cidade viveu e da aprovação da população nas ruas, submeter uma candidatura majoritária a um nome conhecido demais, seria submeter um projeto redesenhado à uma derrota ainda mais acachapante.
O jeito seria transformar Roger Seabra numa figura política que representasse o novo, a direita, o conservadorismo, a luta por mudança. Daí, o slogan: “Minaçu merece muito mais”.
Não sei de quem partiu essa ideia, mas o próprio slogam criado pela campanha de Roger fazia uma espécie de reconhecimento a atual gestão. Veja: se Minaçu “merece muito mais”, é sinal de que tudo aquilo que foi feito pela gestão até aqui foi equivalente ao que se esperava, foi preponderante, substancial, determinante, exitoso, e que, mesmo alcançado a expetativa da população sobre aquilo que ela considera ideal – somente o “novo”, no caso, “eles”, seria capaz de melhorar ainda mais as coisas.
Um slogan, para a comunicação, vale mais que mil palavras: É como se Minaçu já tivesse feito o dever de casa, mas carecia de um ajudante mais competente para fazer muito mais. Embora na mesa ali, palpitando, ex-prefeitos que tiveram sua chance de fazer pelo menos o mínimo: pagar a conta de luz do próprio gabinete, por exemplo.
Ex-prefeitos da base aliada, Maurides, Nick Barbosa, Cicero Romão, embora diretamente infiltrados nas articulações internas da campanha não apareciam publicamente, não tinham vídeos de apoio, pedindo voto, espalhados por aí.
Tinham, sim, quando no calor das emoções áudios vazados por eles mesmos os comprometiam, por hora, tinham que se redimir. Na rede vizinha, somente.
Antes, em uma tacada arriscada, porém direta, Roger Seabra fez um vídeo ousado: polarizou a disputa eleitoral entre conservadores, cristãos e o “outro lado”. Vestiu a camisa verde amarelo, e pediu a todos que pensassem como ele, que fizessem o mesmo, numa clara proposta de segregação entre a direita e a esquerda. Resultado: um tiro certeiro no pé. Foi ali que Roger sepultou sua própria capacidade de dialogo com as diferenças. E ajudou, inclusive, a conceituar a proposta de pacificação – centro do discurso do candidato a reeleição Carlos Leréia, do PSDB. Leréia tem defendido a união de partidos ideologicamente distintos, e a neutralidade política, em torno de um projeto comum para Minaçu. “Deixaremos de usar laranja e passaremos a usar o verde amarelo”, redefiniu o candidato em vídeo.
Talvez, manter figuras do passado longe do vídeo e da imagem do novo que representava Roger fosse uma estratégia de personificação. Até o próprio pai, Amilson Seabra, figura central da articulação do grupo, calado ficou durante os 45 dias. Não disse nada. Não pediu um voto pelas redes. Não manifestou publicamente. Já a avó.
Os ataques
Durante a campanha, Lereia, a família dele, a gestão dele, os eleitores dele, foram atacados de todas as formas, de todos os lados, tendo uma página no Instagram como um braço direito de propagação de fakenews, essa com a qual a justiça fechou os olhos para os abusos cometidos – ao disseminar deliberadamente mentiras completas ou meias verdades: Da falta de agua no Hospital à culpa do prefeito por isso ou aquilo, algo que as vezes até o Estado competia resolver.
Não se chegou ao limite ainda, quando um vereador de oposição, Eugênio Romão, gastou seu tempo de tribuna, o ar acondicionado da Câmara, transmissão, energia, para, ou mentir, ou comprovar desconhecer a própria função de legislar e interpretar as Leis, ao provocar um pedido de cassação, que ele mesmo não faria, com base num vídeo íntimo do prefeito e apoiar-se num Decreto de 1967 que, em suma, regulamenta, critérios de responsabilidade pública dentro da função do cargo. Nada tinha a ver com invasão de privacidade.
O mais grave, e, portanto, o mais indecente. Foi instigar uma deputada federal a acusá-lo de ameaça, e ela de quebra forjar um print de ligação do prefeito, e pagar com dinheiro do bolso para alcançar 1 milhão de brasileiros com um vídeo pouco provado. A população olhou de cima em baixo em Silvye e disse: Quem é ela na fila do pão? Porque ela esta tão disposta a macular a imagem do prefeito, expor pessoas, a custa de que? A população passou a nutrir uma espécie de aversão, de entojo, de asco. E a estratégia de rejeição tornou-se reversa.
Partiu-se então para toda forma de ataque a figura do prefeito, a idade, a sua rispidez no trato com as pessoas (tratamento que não se pode banalizar), mas a oposição sabia o lugar certo de atacar para ver Lereia perder o eixo. O debate deixou claro!
E dia após dia, numa guerra que não parecia ter fim nem limites nova parecia surgir, com um turbilhão de fakenews. Foi a campanha mais pesada e sorrateira da história de Minaçu, pois em outros embates eleitorais embora acirrados, a internet era um campo de fuga, era onde o anonimato dava respaldo a qualquer tipo de ofensa.
A Pesquisa Serpes, contratada por este Portal, foi o estopim. Por mais que se aceitariam os números, porque afinal são irrefutáveis, a ideia seria usar a justiça para causar uma certa suspeição, uma certa confusão. Fabinho Santana quis tirar a candidatura de Gilvania do pareo, na mesma voracidade em que queria destruir a pesquisa Serpes, na Justiça.
O governador Ronaldo Caiado percebeu a tempo. Não veio em nenhum dia dos 45 dias da campanha; em nenhum dos 90 dias da pré-campanha, e, na, Convenção, data que marca o início da jornada de mobilização pelo voto, gravou apenas um vídeo curto. E assim a campanha seguiu aos troncos e barrancos.
Embrulhados num papel de presente novo, pelo lado dentro, era o que há de mais perverso na politica e o que mais representava a volta de um passado de governança que ninguém mais quer saber.
Leréia saiu vencedor, um político forte, reconhecido por derrotar todas as forças inimigas e chegar a uma vitória larga como essa, a maior do Norte do Estado. Nenhum dos candidatos a prefeitos do União Brasil tiveram essa margem vitoriosa de votação per capta. E nenhum dos candidatos derrotados tiveram tantos votos de diferença. É pra ficar na história!
Danillo Neres, jornalista
Para a Coluna Opinião do Portal NG