Ex-CEO da Abercrombie, que enfrenta denúncia de exploração sexual, deve alegar demência
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O ex-CEO da rede de varejo americana Abercrombie & Fitch, Michael Jeffries, que enfrenta acusações de exploração sexual, deve alegar demência para não ter que enfrentar a Justiça dos EUA. Segundo os advogados do ex-executivo, caso a doença seja confirmada, uma audiência de competência será necessária para determinar se ele pode enfrentar as acusações.
Jeffries deixou a Abercrombie em 2014, depois de mais de duas décadas à frente da varejista de roupas, marcada pelo marketing com modelos masculinos sem camisa.
Os advogados de Michael Jeffries disseram em documentos judiciais divulgados na segunda-feira, 23, no tribunal federal em Central Islip, em Long Island, que um neuropsicólogo que examinou Jeffries em outubro concluiu que ele provavelmente tem demência com distúrbio comportamental, doença de Alzheimer e demência de corpos de Lewy.
Os advogados escreveram que o neuropsicólogo concluiu que as deficiências cognitivas, incluindo memória prejudicada, atenção reduzida, lentidão na velocidade de processamento e facilidade de confusão significam que Jeffries não seria capaz de ajudar seus advogados.
Em uma carta conjunta para o juiz, os advogados de defesa e os promotores sugeriram que os especialistas que avaliaram Jeffries testemunhassem em uma audiência de competência de dois dias em junho, para que uma decisão sobre a competência pudesse ser tomada em seguida.
Um porta-voz dos promotores disse na terça-feira que o escritório não teria mais comentários.
Entenda o caso
Jeffries, seu marido e um terceiro homem foram presos em outubro, sob a acusação de atrair homens para orgias “estranhas e coercitivas” com drogas, realizadas em todo o mundo, com a promessa de serem modelos para os anúncios que usavam fotos de homens sem camisa da varejista.
Segundo a acusação, por quase 20 anos, Jeffries, seu sócio Matthew Smith e seu empregado James Jacobson usaram o status, a riqueza e uma rede de trabalhadores da casa de Jeffries para satisfazer os desejos sexuais do casal, no que se constituiu em um negócio internacional de tráfico sexual e prostituição protegido por sigilo, de acordo com uma acusação realizada no tribunal federal de Nova York.
Os três são acusados de tráfico sexual e prostituição interestadual envolvendo 15 acusadores não identificados.
“Explorar sexualmente seres humanos vulneráveis é um crime. E fazer isso com sonhos de um futuro na moda ou como modelo… não é diferente”, disse o advogado americano Breon Peace, do Brooklyn, em uma coletiva de imprensa à época, chamando o caso de um aviso “para qualquer um que pense que pode explorar e coagir outras pessoas usando o chamado sistema de teste do sofá”.
O advogado de Jeffries, Brian Bieber, e os advogados de Smith, Joseph Nascimento e David Raben, disseram por e-mail que responderiam às alegações no tribunal.
Os promotores dizem que os homens às vezes eram orientados a usar fantasias, brinquedos sexuais e injeções dolorosas no pênis para induzir a ereção.
Viagens entre 2008 e 2015
De acordo com a acusação, os três pagaram para que dezenas de homens viajassem dentro dos EUA e internacionalmente para praticar sexo pago com eles e outros homens em Nova York e em hotéis na Inglaterra, França, Itália, Marrocos e Saint Barts (ilha no Caribe) entre 2008 e 2015.
A acusação, às vezes gráfica, descreve festas sexuais nos quais os homens recrutados recebiam drogas, lubrificantes, preservativos, fantasias, brinquedos sexuais e, às vezes, injeções penianas indutoras de ereção que causavam reações dolorosas que duravam horas.
Os homens não eram informados de tudo o que os eventos implicariam, inclusive algumas das práticas sexuais que deveriam realizar, e eram obrigados a abrir mão de suas roupas e telefones celulares durante os encontros e a assinar acordos de confidencialidade depois, segundo a acusação.
A acusação afirma que, às vezes, os homens recebiam itinerários como os enviados a modelos para sessões de fotos, deixando-os no escuro sobre o que estavam se comprometendo a fazer.
Conforme a acusação, os réus levaram os homens a acreditar que participar dos eventos ajudaria em suas carreiras, incluindo suas chances de conseguir trabalhos de modelo da Abercrombie – ou que o não cumprimento poderia prejudicar suas perspectivas, diz a acusação.
Jeffries e Smith empregaram Jacobson para recrutar os homens, que normalmente tinham de se submeter a “testes”, fazendo sexo com Jacobson primeiro, de acordo com a acusação. A acusação diz que outros funcionários da casa, não identificados, também ajudavam a facilitar os eventos, inclusive atuando como segurança e fornecendo álcool, relaxantes musculares, Viagra e outros itens.
Jovens teriam sido vigiados
Os homens foram submetidos a alguns atos sexuais sem consentimento e, quando as testemunhas ameaçaram expor o que estava acontecendo, Jeffries e Smith usaram uma empresa de segurança para vigiá-los e intimidá-los para que ficassem em silêncio, de acordo com uma carta que os promotores apresentaram ao tribunal.
Peace disse na coletiva de imprensa que os promotores têm “muitas provas”, incluindo registros de viagens, documentos financeiros e depoimentos de acusadores e testemunhas.
Jeffries tornou-se CEO da Abercrombie & Fitch em 1992 e deixou o cargo em 2014. A empresa sediada em New Albany, Ohio, que também engloba a Hollister, não quis comentar sua prisão.
Os promotores não alegam que os recursos ou a propriedade da empresa tenham sido usados no suposto esquema sexual.
Uma empresa centenária
A Abercrombie & Fitch tem suas raízes em uma loja de artigos para caça e atividades ao ar livre fundada em 1892. Quando Jeffries chegou, um século mais tarde, a marca era um fracasso no varejo.
Ele foi responsável por transformá-la na queridinha da cultura de shopping center dos adolescentes da virada do milênio, conhecida por sua estética nouveau-preppy (peças sofisticadas da moda clássica) – e por seus anúncios sensuais e eventos de loja com modelos masculinos musculosos e sem camisa. Jeffries falou abertamente sobre como a empresa buscava garotos atraentes que pudessem se encaixar em suas roupas.
Essas observações afastaram os clientes que não se encaixavam – literalmente ou não – na imagem da marca, e a crise financeira de 2008 e a recessão subsequente levaram alguns adolescentes a procurar cadeias de “fast fashion” mais baratas. A popularidade da A&F começou a se desvanecer novamente.
Quando Jeffries saiu, as vendas da empresa estavam caindo, e um fundo de hedge pressionou a diretoria a substituí-lo.
Alguns meses após sua saída, a varejista anunciou que deixaria de usar fotos “sexualizadas” nos materiais de marketing de suas lojas e de chamar as trabalhadoras das lojas de “modelos”. A empresa disse aos gerentes regionais que não “toleraria discriminação com base no tipo de corpo ou atratividade física”.
A empresa se recuperou nos últimos anos.
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