Para companhias aéreas, ameaças cibernéticas são o principal temor de segurança atualmente
Medidas estabelecidas em aeroportos e aviões após os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York limitaram drasticamente o risco de uma ação terrorista presencial. Ataque de 11 de Setembro completa 20 anos. Terroristas sequestraram aviões comerciais para jogá-los contra pontos dos EUA como as Torres Gêmeas, em Nova York
Sean Adair/Reuters/Arquivo
As medidas de segurança estabelecidas em aeroportos e aviões após os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York limitaram drasticamente o risco de uma ação terrorista. Hoje, contudo, o que mais preocupa as companhias aéreas no quesito segurança são os potenciais ataques cibernéticos.
A blindagem das portas de acesso, o uso de equipamentos sofisticados para detecção de explosivos, o monitoramento de passageiros e o controle mais rígido dos objetos que podem ser levados dentro das aeronaves foram algumas das medidas introduzidas após os atentados.
Em uma nota publicada na última quarta-feira (8), o diretor-geral da Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata, na sigla em inglês), Willie Walsh, afirmou que “há mais segurança” nos aviões atualmente.
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Além disso, mesmo que alguém conseguisse burlar as medidas de segurança e tentasse assumir o controle físico de uma aeronave, “os próprios passageiros, cientes do que ocorreu em 11 de setembro, lutariam”, previu Dan Cutrer, um ex-piloto e especialista em segurança aérea da universidade Embry-Riddle, nos EUA.
Segundo o especialista, agora os novos perigos são invisíveis, como o coronavírus e os ataques cibernéticos.
Estes últimos, na opinião do diretor-geral da Iata, fazem parte dos “riscos emergentes” para a segurança e devem ser monitorados de perto.
Novas portas
Conforme o setor de aviação adota novas tecnologias, desenvolve serviços on-line e oferece conexões wi-fi aos passageiros, novas portas se abrem para a ação dos hackers.
Os especialistas ouvidos pela AFP, no entanto, consideram pouco provável que alguém consiga assumir remotamente o controle de uma aeronave, já que o sistema utilizado para a pilotagem não está conectado ao que é oferecido para gerenciar os utilitários dos passageiros.
Pablo Hernández, pesquisador do instituto Innaxis, especializado em aviação, acredita que a ameaça mais tangível talvez esteja no sistema de que comunicação entre pilotos e controladores aéreos, que não está encriptado. Segundo o especialista, não é muito difícil se intrometer em uma conversa com um bom equipamento de rádio.
Contudo, como a segurança dos voos é prioridade na aviação, os aparelhos sensíveis estão protegidos, garante Hernández.
Por outro lado, os ataques aos sistemas “em terra”, como os que gerenciam reservas de passagens e bagagens, se tornaram mais comuns. Em 2020, um grupo de hackers teve acesso aos dados pessoais de cerca de 9 milhões de clientes da empresa britânica EasyJet.
Apenas no ano passado, o órgão de vigilância de tráfego aéreo Eurocontrol registrou 1.260 ataques desse tipo, principalmente contra companhias aéreas, mas também contra fabricantes, aeroportos, autoridades, etc.
Em média, um agente do setor no mundo é vítima a cada semana de algum tipo de software malicioso, instalado fraudulentamente pelos hackers, que pedem um resgate em dinheiro para desbloquear o sistema ou para não tornar públicas as informações roubadas, acrescentou o Eurocontrol em uma nota publicada no início de julho.
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Dinheiro e espionagem
Para Deneen DeFiore, chefe de segurança cibernética da companhia United Airlines, o risco mais temido é um ciberataque que “atrapalhe as operações”.
“Na aviação, não há tempo perdido”, afirmou DeFiore à AFP. Os aviões estão em constante movimento em todo o mundo e qualquer avaria pode gerar um problema em cascata.
Além disso, o risco aumenta com o uso crescente de softwares para realização de transações financeiras, gerenciamento de dados e de planejamento para o consumo de combustíveis.
A grande maioria dos hackers parecem agir motivados pelo dinheiro, que podem ganhar “hackeando” dados bancários, vendendo dados pessoais ou exigindo um resgate.
Por outro lado, devido às muitas informações disponíveis sobre os passageiros, como nomes e históricos de viagens, alguns países pode se sentir tentados a realizar ações de de espionagem, opinou Katelyn Bailey, especialista da empresa de cibersegurança FireEye.
Contudo, a existência de um centro para compartilhar informações e análises dedicadas à cibersegurança na aviação (Aviation ISAC, em inglês) desde 2014 tem proporcionado uma ajuda inestimável para as companhias, opina Deneen DeFiore.
Para ela, os riscos cibernéticos representam uma nova realidade que deve ser levada em conta, desde os responsáveis pela segurança aérea às equipes de manutenção.