Ideias para o atendimento da saúde em 2030
Inteligência artificial pode ser usada para fazer curadoria das informações sobre os pacientes Que panorama esperar para a saúde em 2030? O que pode ser feito na próxima década para que todo o potencial da tecnologia da informação se converta no aperfeiçoamento do atendimento das pessoas? Essa era a pergunta a ser respondida no seminário on-line “Technology & data in 2030”, promovido pela revista “New England Journal of Medicine Catalyst” na semana passada. Mesmo que as questões não retratem a realidade brasileira – pelo menos a da maioria dos cidadãos, embora tenhamos ilhas de excelência que seguem os mais exigentes padrões internacionais – acho importante jogar luz sobre o que está sendo discutido lá fora para sabermos o que cobrar de gestores e governantes.
Paciente internada: inteligência artificial pode ser usada para fazer curadoria das informações
Parentingupstream para Pixabay
A médica Amy Merlino, diretora do setor de informação da Cleveland Clinic, hospital centenário que está entre os cinco melhores dos EUA, foi enfática ao dizer que a tecnologia não é uma barreira à empatia, nem substitui o contato humano, mas é fundamental para melhorar o atendimento. “Temos que ampliar e consolidar a rede de informações sobre os pacientes, usando a inteligência artificial para fazer uma curadoria desses dados e filtrar o que é relevante”, afirmou, dando um exemplo fictício: “imaginemos Maria, de 30 anos, mãe de dois filhos, com um quadro de hipertensão na última gravidez, sobrepeso e uma leve depressão. Poderemos oferecer um aplicativo de monitoramento de bem-estar para acompanhá-la que, ao mesmo tempo, compartilhará as informações com os agentes de saúde. Esses poderão pedir exames de acordo com a situação descrita na interface do app e até encaminhar Maria para um especialista se notarem que ela tem um problema mais complexo. O desafio é buscar uma solução proativa para atender a todos e atuar na prevenção, e não esperar que cada um marque uma consulta. Acho que temos muito a aprender com os aplicativos de compras, que já proporcionam uma experiência mais abrangente aos consumidores”.
Em junho, a mesma publicação havia realizado um debate com foco no paciente como consumidor, apontando para uma mudança impensável há 20 anos: a crescente adoção dos relatórios feitos pelos próprios pacientes sobre sua condição de saúde para auxiliar no monitoramento e na tomada de decisões relacionadas ao tratamento. Para um sistema que sempre foi centrado na figura do médico, é um grande passo. Há dois mecanismos de medição: “Experiência relatada pelo paciente” (“Patient reported experience”, ou Prem), que avalia a jornada do doente no hospital até a alta; e “Desfechos medidos pelo paciente” (“Patient reported outcome measure”, ou Prom), com informações coletadas depois da alta. Ambos têm como objetivo medir a qualidade da assistência dada e devem integrar o prontuário eletrônico da pessoa.
Por que o Prom vem ganhando tanto destaque? Ele contempla perguntas sobre a qualidade de vida geral e funcional do paciente, como a capacidade de realizar atividades do dia a dia, além do efeito e eficácia do tratamento. São informações que medem dor, mobilidade, fadiga e até depressão e podem, inclusive, indicar a necessidade de reinternação. Estamos longe, mas é bom saber que há um caminho a ser seguido.