Biden diz que só considera desistir da campanha se Deus mandar
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VICTOR LACOMBE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, repetiu nesta sexta-feira (6) que o debate contra Donald Trump que deu início à forte pressão para que ele abandone a campanha foi apenas uma noite ruim.
Falando à emissora ABC News, na primeira grande entrevista que concedeu desde o debate no último dia 27, Biden disse que não prestou atenção nos seus instintos e não se preparou de forma adequada para o confronto, que foi marcado por um desempenho confuso, vacilante e incoerente do presidente -antes do embate promovido pela CNN americana, o democrata passou seis dias se preparando com assessores de campanha em Camp David, uma espécie de retiro dos presidentes dos EUA.
Quando questionado pelo jornalista George Stephanopoulos por que esses seis dias não foram o suficiente, Biden atribuiu o mau desempenho a problemas de saúde. “Eu estava exausto, e estava doente –os médicos chegaram a fazer um teste de Covid, que deu negativo. Foi um momento ruim, uma noite ruim”, disse Biden na entrevista, que foi gravada na manhã da sexta e divulgada pela ABC News à noite.
O presidente afirmou ainda que “a gritaria de Trump” o distraiu durante o debate, disse que ninguém sugeriu que ele precisa de exames neurológicos ou cognitivos, e insistiu: “Ainda estou em boa forma”. Biden se recusou, entretanto, a prometer que se submeteria a um exame cognitivo, dizendo que faz um teste desses “todo os dias” na forma do seu trabalho como presidente.
Em alguns momentos da entrevista, Biden estava com a voz rouca, como aconteceu no início do debate, e em outros, apresentou lentidão para encontrar palavras e parou de falar por alguns segundos.
Ao responder a pergunta sobre se tem capacidade de ser presidente pelos próximos quatro anos, Biden entrou em uma longa tangente sobre o que chamou de vitórias suas, como a expansão da Otan, a aliança militar ocidental, a decisão do Japão de expandir seu orçamento militar, e o desenvolvimento de novos tipos de microchips –não ficou claro ao que o presidente se referia nesse ponto, e ele foi interrompido por Stephanopoulos com a mesma pergunta sobre capacidade, ao que respondeu que não estaria concorrendo se acreditasse no contrário.
Em certo ponto, Stephanopoulos perguntou a Biden se ele estava sendo honesto consigo mesmo sobre sua capacidade de derrotar Trump. O presidente respondeu que se lembra de que disseram que ele não venceria em 2020, e que todas as pesquisas indicam que a corrida será acirrada. “Eu não acho que ninguém é mais qualificado para ser presidente e vencer essa eleição do que eu.”
O jornalista então pressionou o democrata, perguntando se ele desistiria da candidatura se chegasse à conclusão que não pode derrotar Trump. “Se Deus me dissesse isso, talvez”, respondeu Biden, acrescentando que todos os principais líderes democratas querem que ele continue na disputa.
Stephanopoulos disse, então, que nunca viu um presidente com apenas 36% de aprovação nas pesquisas vencer uma reeleição. Biden respondeu que não acredita nesse número.
O presidente vem sofrendo pressão do Partido Democrata e de parte da imprensa americana para que abandone sua candidatura, um movimento que teve início imediatamente depois do fim do debate em Atlanta, na Geórgia.
Até aqui, nenhum dos principais nomes do partido pediu abertamente que Biden se afaste, e tanto os líderes no Congresso quanto governadores dizem que apoiam a decisão do presidente de continuar na campanha.
Entretanto, deputados de baixo clero, doadores e estrategistas vem dizendo que a idade de Biden se tornou um problema incontornável depois de um debate no qual a performance do chefe do Executivo foi muito aquém do que a campanha desejaria para mobilizar o eleitorado.
Nesta sexta, o deputado democrata Brad Sherman, da Califórnia, sugeriu que a entrevista de Biden na ABC não seria o bastante para afastar temores de que ele não tem capacidade de continuar concorrendo. “É importante que o presidente também faça uma entrevista ao vivo o mais rápido possível. Eleitores que votaram nas primárias tem uma vontade: precisamos de um candidato que derrote Donald Trump”, escreveu Sherman em uma publicação no X.
O líder do partido na Câmara dos Deputados, Hakeem Jeffries, anunciou que vai realizar uma reunião com outros líderes da Casa a respeito da candidatura de Biden no domingo (7), aumentando a tensão e expectativa de que mais parlamentares digam em público que o presidente precisa desistir.
Nesta sexta, em um evento de campanha no estado de Wisconsin, Biden fez um discurso em que falou do debate. “Não foi meu melhor desempenho, e desde então tem havido muita especulação. Será que o Joe vai sair da corrida? Bem, aqui está minha resposta: eu vou concorrer e vou vencer.”
Entretanto, também na sexta, Biden tropeçou nas palavras durante uma entrevista a uma rádio local na Filadélfia, dizendo: “sou a primeira mulher negra a ser vice-presidente de um presidente negro”, quando queria dizer que sua vice, Kamala Harris, é a primeira mulher negra no cargo e que ele próprio, Biden, foi o vice de um chefe do Executivo negro, Barack Obama. A confusão, mais uma vez, virou chacota na internet e agravou preocupações de aliados.
O presidente se reuniu a portas fechadas com governadores democratas na quarta (3) na Casa Branca. No encontro, de acordo com relatos da imprensa americana, ele repetiu que pretende continuar na campanha, mas fez uma ressalva afirmando que precisava apenas dormir mais e trabalhar menos à noite.
A reunião contou com a presença de vários nomes cotados para substituir Biden no caso de uma desistência, como os governadores da Califórnia, Gavin Newsom, de Michigan, Gretchen Whitmer, e de Illinois, J.B. Pritzker.
A escolha mais provável, entretanto, provavelmente seria a vice-presidente, Kamala Harris. Em uma pesquisa de intenções de voto divulgada pela agência de notícias Reuters na quarta-feira (3), Kamala aparece atrás de Trump por um ponto percentual, 42% a 43%. Pesquisas dos jornais The New York Times e Wall Street Journal realizadas após o debate indicam que Biden vem perdendo terreno, marcando entre 41% e 42% contra 49% e 48% de Trump.
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