Denúncia de violência de gênero contra Fernández entra na política argentina

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(FOLHAPRESS) – Foi um daqueles casos raros que unem o governismo e a oposição na Argentina. A denúncia de violência física feita pela ex-primeira-dama Fabiola Yañez contra o ex-presidente peronista Alberto Fernández e suas fotos machucada que vieram a público entraram na agenda política e aglutinaram mensagens de rechaço no país.

 

Cristina Kirchner, aquela que foi vice do peronista na Casa Rosada mas sem dúvidas é um de seus maiores desafetos, manifestou-se nesta sexta (9). “Alberto Fernández não foi um bom presidente. Mas as imagens que vimos ontem são outra coisa”, escreveu em seu perfil no X.

“As imagens permitem comprovar, uma vez mais e de forma dramática, a situação da mulher em qualquer relação. A misoginia e o machismo não têm uma bandeira partidária e atravessam a sociedade”, escreveu Cristina, que em 2022 foi alvo de uma tentativa de assassinato que a Promotoria agora tenta enquadrar também como violência de gênero.

Horas antes da líder peronista, foi a vez do governo do presidente Javier Milei se pronunciar. “Nos tratavam de misóginos, de fascistas que, se chegássemos ao poder, destruiríamos tudo, e a verdade é que se equivocaram”, afirmou Manuel Adorni, o porta-voz da Presidência.

Ele defendeu que “qualquer pessoa que se dirija com violência contra outra tem de ir presa”. Também aproveitou o momento para defender as políticas da gestão ultraliberal na Casa Rosada.

Milei foi amplamente criticado por suas decisões de fechar o Ministério da Mulher criado na gestão de Fernández e o Inadi, Instituto Nacional contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo. Ele afirmava que ambos eram órgãos criados para fins ideológicos e partidários.

“O que observamos é que unicamente se utilizou a mulher para fazer negócios, política, criar empregos públicos e se apropriar de recursos do Estado”, seguiu Adorni ao defender as políticas do governo em um momento no qual o país debate a violência de gênero.

Também se manifestou um dos principais nomes do kirchnerismo no país, o governador de Buenos Aires, Alex Kicillof. A uma rádio local, ele quebrou o silêncio de dias e afirmou que “todos estão muito chocados com a situação”. “Espero que se resolva rapidamente, que a Justiça atue, estamos todos em choque.”

Alberto Fernández já não gozava do capital político que um dia gozou desde que deixou a Casa Rosada em dezembro para ser substituído por Milei. Com uma grave crise econômica, ele nem chegou a concorrer à reeleição e saiu do governo de quatro anos em farpas com Cristina.

A situação já se complicou para ele quando, em abril, teve o bloqueio de seus bens e a quebra do sigilo bancário de suas contas decretados pela Justiça argentina em meio a uma acusação de que está envolvido em desvio de verba pública na contratação irregular de seguros para empregados públicos. Ele nega.

Foi no meio desse processo que as denúncias da ex-primeira-dama Fabiola Yañez, jornalista, vieram à tona. Os responsáveis pelo caso da acusação anterior acessaram mensagens em que Yañez relatava as agressões e a chamaram a testemunhar. Pouco depois, ela formalizou as denúncias por agressão contra o ex-marido.

Os detalhes da separação dos dois são incertos. Desde que deixou a Presidência, Fernández priorizou sua estadia em Madri. Na capital vivem Yañez e o filho pequeno dos dois, enquanto o peronista se dividia entre a cidade espanhola e a argentina Buenos Aires. Os rumores de que estavam distantes já corriam por meses.

A repercussão política na Argentina escalou quando o nativo digital Infobae publicou as fotos de Yañez machucada, nos olhos e nos braços, na noite desta quinta (8). A própria ex-primeira-dama as teria enviado a Fernández pelo aplicativo WhatsApp.

Em capturas de tela das mensagens também reveladas pelo portal, há textos como: “Isso já não funciona se a todo momento você me bate. Não posso deixar que você me faça isso quando não te fiz nada. Tudo que tento fazer é defender-me, e você me agride fisicamente.”

Em outra, a ex-primeira-dama relata que havia três dias que Fernández a agredia. O peronista se torna o primeiro presidente argentino da história acusado formalmente de violência de gênero.

Ao apresentar uma denúncia por videochamada ao juiz Julián Ercolini, Yañez acusou o ex-marido de violência física e assédio. Disse que sofria terrorismo psicológico e que temia por ela e pelo filho.

Fernández se manifestou em nota. Antes da divulgação das fotos pela imprensa, disse que “a verdade dos fatos é outra; apenas direi que é falso e que jamais ocorreu o caso de que agora me acusam”.
“Pela integridade de meus filhos, da minha pessoa, e também da própria Fabiola, não farei declarações midiáticas, mas apresentarei diante da Justiça as provas e os testemunhos que vão evidenciar o que realmente ocorreu.”

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