Morre David Souter, juiz da Suprema Corte dos EUA que surpreendeu com virada liberal
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WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – David Souter, ex-juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, morreu na quinta-feira (9) em sua casa, em New Hampshire, aos 85 anos. Nomeado pelo presidente George Bush (1924-2018), o jurista era republicano, mas, ao longo de 19 anos no tribunal superior, tornou-se um dos principais nomes da ala liberal.
Sua morte foi anunciada na manhã desta sexta (9) pela Suprema Corte, que não citou a causa, afirmando apenas que ele havia falecido “em paz”. “O juiz David Souter serviu nossa Corte com grande distinção por quase 20 anos. Ele trouxe sabedoria e bondade incomuns para uma vida inteira de serviço público”, disse o chefe de Justiça John Roberts em comunicado. “Ele fará muita falta.”
Um homem tímido que nunca se casou e preferia uma noite sozinho com um bom livro a uma noite na companhia de pessoas de Washington, Souter se aposentou jovem, aos 69, para retornar ao seu amado estado natal.
Anos antes, quando William Brennan, pilar do campo liberal na Suprema Corte dos EUA, se aposentou repentinamente em 1990, o então presidente Bush escolheu Souter para substituí-lo. Na época, ele era um juiz federal pouco conhecido de New Hampshire, cujas posições sobre temas centrais ainda eram amplamente desconhecidas.
Ao indicar Souter, o presidente Bush afirmou conhecer suas “visões gerais”, mas não o questionou diretamente sobre aborto ou outras questões. Na época, assessores da Casa Branca garantiram aos conservadores republicanos que Souter seria um acerto em termos de alinhamento jurídico com a direita.
Durante suas audiências de confirmação no Senado, o graduado pela Faculdade de Direito de Harvard, que havia servido como procurador-geral de New Hampshire e juiz da corte estadual, foi apelidado de “candidato furtivo”, com liberais americanos temerosos e grupos de direitos ao aborto anunciando sua oposição.
Mas Souter frustrou os conservadores ao adotar posições liberais, como o apoio ao direito ao aborto e a ações afirmativas. Também se opôs à decisão da Suprema Corte que encerrou a recontagem de votos na Flórida e favoreceu George W. Bush na eleição de 2000.
Aos 69 anos, Souter anunciou sua aposentadoria apenas meses depois que George W. Bush deixou o cargo -negando ao filho do homem que o nomeou a chance de substituí-lo e dando essa oportunidade a Barack Obama, um presidente democrata.
Obama elogiou Souter, quando ele se aposentou, como um “juiz justo e independente”. “Ele chegou ao tribunal sem nenhuma ideologia”, disse Obama. “Ele abordou o julgamento como aborda a vida, com uma ética de trabalho fervorosa -a marca não apenas de ser um bom juiz, mas de ser uma boa pessoa.”
Foi a primeira vez em 15 anos que um presidente democrata teve a oportunidade de nomear um juiz. Obama escolheu a liberal Sonia Sotomayor, a primeira pessoa hispânica a se tornar juíza da Suprema Corte.
Souter também votou em casos para limitar o uso da pena de morte e a favor dos direitos legais dos suspeitos de terrorismo estrangeiros detidos sob George W. Bush na base naval dos EUA em Guantánamo, Cuba.
Fora do tribunal, o recluso solteiro evitava os olhos do público, mantendo-se em um pequeno círculo de amigos de New Hampshire, assistindo a uma televisão em preto e branco, e trazendo seu almoço de iogurte e uma maçã para a corte todos os dias. Souter, que morava em um pequeno apartamento escassamente mobiliado não muito longe da corte, geralmente dirigia para o trabalho em um Volkswagen.
David Souter nasceu em 1939 em Weare, New Hampshire, e vivia na antiga fazenda da família quando foi nomeado à Suprema Corte.
Filho único, teve carreira discreta como procurador-geral e juiz em New Hampshire antes de ser indicado por George H. W. Bush ao Tribunal de Apelações e, meses depois, à mais alta corte do país. Formado em Harvard, também foi bolsista Rhodes em Oxford.
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