Putin aceita cessar-fogo parcial mediado pelos EUA com Ucrânia

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, aceitou um cessar-fogo temporário com a Ucrânia em conversa por telefone com o americano Donald Trump. O russo não concordou com uma trégua total de 30 dias, como havia sido proposto e já aceito por Kiev, mas a suspensão dos ataques mútuos contra infraestrutura e rede energética.

 

Os líderes conversaram por ao menos 90 minutos ao telefone nesta terça (18), mas Putin manteve a posição de que aceita a trégua se os termos que pretende ver contemplados num acordo de paz já estiveram à mesa.

De todo modo, se a trégua parcial avançar, será a primeira oportunidade para uma pausa real nas hostilidades iniciadas pelo Kremlin há três anos e 23 dias, que geraram o maior conflito em solo europeu desde 1945 e impactaram profundamente o arcabouço geopolítico global.

Antes, só houve uma tentativa de trégua na guerra. Em janeiro de 2023, o Kremlin havia observado parcialmente uma paralisação de um dia e meio para a celebração do Nat al ortodoxo, que não foi seguida nem por Kiev, nem por seus mercenários.

Os russos já destruíram mais de 2/3 da capacidade de produção energética do vizinho na guerra, além de dominar sua principal usina nuclear, em Zaporíjia (sul). Já os ataques com drones ucranianos têm causado disrupção na produção de petróleo no sul russo, como o incêndio na megarefinaria de Tuapse mostrou na semana passada.

Um “sim” completo de Putin poderia ter coroado um processo que Trump disparou ao voltar ao poder, mas o russo buscou colocar em seu próprio ritmo, levando a críticas de adversários de que ele não tem interesse na paz.

Após contatos desordenados com o Kremlin, o presidente decidiu ligar para o russo e combinar uma negociação bilateral. Alienou Zelenski, chamado de ditador e humilhado na Casa Branca, e deixou os os europeus de lado.

Ato contínuo, a União Europeia e seus líderes passaram a anunciaram mais gasto militar quase diariamente, e o ucraniano acabou cedendo e aceitando o cessar-fogo de 30 dias para começar a negociar numa reunião na Arábia Saudita, país que já sediaram conversas russo-americanas. Em troca, ganhou ajuda militar de volta dos EUA.

Há vários temas que Putin quer ver discutidos antes de calar canhões de vez. Ele não quer nenhuma garantia de segurança ocidental para Kiev, como a força de paz europeia sugerida por Trump e Zelenski. Seja como for, pressionado, o longevo chefe do Kremlin passou a questionar a trégua, exigindo o início de um acordo de paz em seus termos.

Militarmente, Moscou está num momento de força, tendo praticamente acabado de expulsar os ucranianos de Kursk, região do sul russo que Zelenski queria usar de ficha de barganha. As trocas de ataques de drones seguem intensas, e as forças de Putin romperam linhas defensivas no sul pela primeira vez desde 2022.

Trump até aqui está fazendo o jogo de Putin, adotando o arco narrativo russo do conflito, que coloca a culpa da guerra na conta da aproximação da aliança militar ocidental Otan e Kiev.

Pelo que transpareceu até aqui, o americano está de acordo com a cessão de todo o território já dominado pela Rússia na Ucrânia, cerca de 20% do país, contando aí os 4,5% da península da Crimeia. É a maior derrota de Zelenski, que já admitiu não ter força militar para retomar as terras.

Em troca, ele deve ganhar a promessa de uma revisão do status das áreas no futuro, mas isso é incerto, e não irá reconhecer oficialmente a perda –assim como no caso da Crimeia, uma vez que seja fato consumado, a tendência da comunidade internacional é manter o protesto, mas deixar o tema de lado.

No domingo (16), Trump havia dito que além do fatiamento da Ucrânia, também estava procedendo o que chamou de divisão de ativos em jogo, particularmente usinas energéticas. Ele se referia à planta nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, que está sob domínio russo e sem produzir de fato desde 2022.

Se a usina voltará a funcionar, fornecendo energia para os dois lados, é uma incógnita a essa altura. Há diversos outros itens em debate, como reparações usando ou não o lucros em juros dos US$ 300 bilhões em reservas russas no exterior ou o fundo comum da exploração conjunta dos minerais estratégicos da Ucrânia proposto por Trump.

O retorno das 700 mil crianças retiradas da zona de guerra no leste ocupado para suas casas tende a causar barulho, dado que na prática elas permanecerão na Rússia. Putin tem um pedido de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional por causa da migração, e talvez o objeto da acusação se perca.

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