Teste de saúde mental viraliza no Tiktok, mas diagnóstico exige especialista
RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Testes psicológicos sobre saúde mental ganharam o Tiktok e outras redes sociais nas últimas semanas, repetindo um fenômeno visto em 2022. O mais famoso deles mede os níveis de depressão, ansiedade e estresse por meio de 21 perguntas feitas em um questionário aplicado clinicamente. Especialistas ponderam, porém, que o diagnóstico e tratamento devem ser feitos e acompanhados por um profissional de psicologia ou de psiquiatria.
As reações dos usuários mostra que a saúde mental é uma questão atrativa, especialmente o público mais jovem. “O meu deu depressão severa, ansiedade severa e estresse grave. Eu não esperava por esse resultado, fiquei e ainda estou muito assustada”, relatou Sofia Melo na publicação de Kamili Santos.
O vídeo de Santos contando o índice obtido no teste DASS-21 (Depression Anxiety Stress Scales-21), em inglês) já teve 15,5 mil visualizações, 65,4 mil curtidas e mais de 2.000 comentários. O questionário é um dos mais utilizados e foi criado em 1995 por psicólogos da Universidade de New South Wales.
Validado em 2013 para o público brasileiro, tem sido adaptado desde então por diversos estudos. Um deles, publicado em 2016 por pesquisadores da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), investigou como as 21 questões do DASS-21 poderiam ajudar a medir a intensidade dos sintomas da depressão, da ansiedade e do estresse em adolescentes.
Após avaliarem 426 jovens de 12 a 18 anos de escolas públicas de Porto Alegre (RS) com o questionário, nomearam a versão como EDAE-A (Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse para Adolescentes) e comprovaram que a maior média ocorria entre as garotas.
“Em relação à faixa etária, adolescentes mais novos (12 a 15 anos) e mais velhos (16 a 18 anos) não diferiram. Sobre as diferenças entre os sexos, esse aspecto pode estar relacionado a estereótipos de gênero, que demonstram especificidades quanto à saúde mental das meninas”, destacam as pesquisadoras.
O neuropsicólogo Bruno Moraes de Souza disponibilizou o teste em seu site profissional, mas reforça que o questionário é uma ferramenta informativa e não foi publicado com a finalidade de captar pacientes ou gerar lucro.
“É um conteúdo que visa instrumentalizar as pessoas para conseguirem entender se estão apresentando sinais de que precisam buscar atendimento psicológico. Deixamos muito claro que os testes não servem para diagnóstico, e sim para um levantamento sintomático geral”, afirma.
Souza lembra também que a psicologia possui um código de ética que tem como objetivo prevenir o uso de técnicas ou conceitos científicos da psicologia em práticas marqueteiras. A difusão do teste, entretanto, acredita ser positiva se bem orientada.
“Quando uma pessoa se encontra em algum quadro de desequilíbrio psicológico, é natural que ela busque informações para entender o que está ocorrendo com ela. Oferecer à população conhecimentos básicos sobre os desequilíbrios psicológicos, não só instrumentaliza a pessoa para buscar auxílio profissional e melhorar sua qualidade de vida, como evita que o paciente conviva com uma doença sem saber que há uma alternativa de tratamento”, diz Souza.
O médico Rodrigo Huguet, psiquiatra e membro da diretoria da AMP (Associação Mineira de Psiquiatria), reforça que o questionário não é capaz de trazer um diagnóstico, mas um sinal de que está na hora de prestar atenção na saúde mental.
“Se a pessoa fizer um teste, pode ser um indicativo de que ela pode ter depressão, pode ter um transtorno de ansiedade, mas não dá o diagnóstico. Se ela estiver sentindo sintomas emocionais que durem muito tempo, mais de duas semana ou que estejam causando muito sofrimento e não tenha um contexto que justifique, indicamos um especialista”, diz Huguet.
O médico afirma que mais do que responder a um teste online pontualmente, a pessoa precisa observar a si própria, notando se está muito angustiada, ansiosa, triste, desanimada ou com pensamentos ruins. Crises de ansiedade e medo de sair de casa são outros pontos de atenção.
“Para ter o diagnóstico tem que procurar um profissional e conversar com ele, pois é o profissional quem vai realmente trazer um diagnóstico de depressão, de ansiedade, e indicar o melhor tratamento”, conclui.