‘Uma pessoa como Pepe Mujica não morre’, diz Lula em funeral
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MONTEVIDÉU, URUGUAI (FOLHAPRESS) – Depois de um giro por Rússia e China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viajou a Montevidéu para se despedir do ex-líder uruguaio José Pepe Mujica, de quem era amigo.
Acompanhado da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, ele chegou ao funeral na sede do Congresso pouco depois das 14h e abraçou a viúva de Mujica, a ex-vice-presidente e ex-senadora Lucía Topolansky. Depois, ficou ao lado do presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, e se aproximou do caixão.
Pouco depois, Lula falou à imprensa e disse que telefonou para Orsi de Pequim, assim que foi informado da morte, para saber quando seria o velório. “Eu não o respeito apenas como político. O Pepe Mujica é mais do que isso. É um ser humano muito, muito especial para quem pensa no passado, para quem pensa no presente, para quem pensa no futuro.”
“O que é gratificante para nós, seres humanos, é que uma pessoa como Pepe Mujica não morre. [O que] se vai é o corpo dele, a carne dele, mas não as ideias que Pepe Mujica plantou em todos esses anos.” Com os olhos marejados, declarou que não podia deixar de se despedir porque Pepe era a figura que ele aprendeu “a respeitar, admirar e a seguir em cada passo”.
Ainda na China, Lula já havia dado um depoimento emocionado sobre o amigo uruguaio. “Conheço muita gente, conheço muitos presidentes, conheço muitos políticos, mas nenhum deles se compara à grandeza da alma de Pepe Mujica. Ele foi realmente uma figura excepcional.”
Na declaração aos jornalistas nesta quinta, Lula falou em “duas perdas irreparáveis” nos últimos dias, fazendo referência a Mujica e ao papa Francisco, que morreu em 21 de abril. “Espero que os dois juntos, onde eles estiverem no céu, não deixem de olhar e consigam abençoar para que a humanidade seja melhor, para que a comunidade seja mais fraterna.”
Logo depois deste pronunciamento, Lula retornou à Base Aérea para voltar a Brasília. Viajaram na comitiva brasileira o ministro Marcio Macedo (Secretaria-Geral), o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, o senador Humberto Costa (PT-PE), e os deputados federais Jandira Feghali (PC do B-RJ) e Guilherme Boulos (PSOL-SP).
Por volta das 17h, o caixão de Mujica foi retirado do prédio do Legislativo. Em seguida, havia a expectativa de que seria levado para cremação em uma funerária da capital uruguaia -o que deve acontecer nesta sexta-feira (16), em cerimônia reservada para a família, segundo uma pessoa próxima que falou com a reportagem.
Quando o caixão do ex-presidente deixou o prédio, o público cantava entre lágrimas: “somos orientales [como os uruguaios se chamam] até a eternidade”. Políticos, militantes de esquerda e funcionários da Casa Legislativa que conviveram com Mujica aplaudiam e gritavam palavras de agradecimento. Após cantar em homenagem a ele o músico e amigo de Pepe Mario Carrero lembrou-se que esteve na casa do esquerdista no fim de semana. “Cantamos, conversamos e pensamos na vida. Vou sentir saudades.”
Quando anunciou no início deste ano que seu câncer havia se espalhado, Mujica revelou seu desejo de ser cremado e que suas cinzas fossem colocadas em seu jardim, ao lado de sua cadela Manuela, sob uma árvore que ele mesmo plantou.
No segundo dia de homenagens a Mujica, o centro de Montevidéu voltou a se encher de apoiadores que carregavam bandeiras vermelhas, azuis e brancas da Frente Ampla, partido do ex-presidente. Em clima de emoção, com aplausos, flores e cânticos, longas filas se formaram diante do Salão dos Passos Perdidos, no Palácio Legislativo, onde foi montada uma capela funerária para o velório público. Integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), do Brasil, estavam entre os que prestavam reverência a Mujica.
Uma das maiores lideranças da esquerda na América Latina, Mujica morreu na terça-feira (13), aos 89 anos, após meses de tratamento contra um câncer de esôfago, cujo diagnóstico ocorreu um ano antes. Ele estava em seu sítio em Rincón del Cerro, na zona rural de Montevidéu, ao lado da esposa.
Também foi a Montevidéu o presidente do Chile, Gabriel Boric, que passou pelo caixão de Mujica para deixar sua reverência. No dia da morte, ele também dedicou uma mensagem ao ex-presidente uruguaio. “Caro Pepe, imagino que você esteja indo embora preocupado com a amargura que o mundo vive hoje. Mas, se você nos deixou algo, foi a esperança inabalável de que as coisas podem ser melhores”, escreveu o chileno nas redes sociais.
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